Imagem de Roberta Molteni
Meu dinheiro é bom. Todos querem. O tempo todo. Na padaria, eles oferecem pão e leite pelo meu dinheiro. Eu dou. Preciso. Multa no pára-brisa do carro. Pago por estar no lugar errado, na hora errada. O nariz escorrendo, a mão estendida me livra dos centavos. No supermercado, minha fome custa. Meus caprichos, um pouco mais. Gosto de ameixas vermelhas e de me barbear com aparelhos de três lâminas. Elas querem o meu rosto liso, sem escamas. Querem jantar, trepar, ter filhos, querem saber a marca e o modelo de tudo o que tenho. O amor custa caro. Largo emprego, tranco a casa, engulo a chave, apago a luz; desligo água, telefone, internet, tv a cabo. Nunca mais uso cartão de crédito, cheque, carteira. Como apenas o que me for oferecido: pão, água e pinga ninguém nega, ninguém rejeita. Fico quietinho, no canto do quarto, melhor dentro do armário. Paro de respirar, mas não vou resistir por muito tempo. O celular vibra no bolso da calça. Me acharam. Desta vez vou ficar devendo roupas, sapatos, respeito, os olhos da cara. Dei calote no dízimo, suspenderam minha fé. Mas milagres acontecem: sou cliente especial. Garoto de sorte. Em poucos minutos eles vão estar liberando o meu crédito. Porque meu dinheiro é bom. Bom, não. Meu dinheiro é ótimo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário