segunda-feira, 28 de abril de 2008

microcrises : realidades delirantes


Imagem de Luisão Pereira

Algo que percorre todo meu corpo não pode ser nada de absoluto. Mesmo sendo livre para escolher eu não o faço. Fico a imaginar navios fantasmas e realidades delirantes. A vida prática é tão mais fácil. Por que então ela nunca me diverte? Comprei algo novo hoje de manhã mas, após o almoço, já me sentia um velho.

sábado, 12 de abril de 2008

microcrises : borboletas e gafanhotos


Imagem de Daniela Cruz

Ao te ver sangrar até os olhos encherem d’água, no momento em que a dor dissolve tudo em que acredito, me despeço do rancor e da memória dos tempos. Quando o suor do teu corpo desenha no meu corpo, borboletas e gafanhotos. E se isto te traz a mim quase que por engano, o que fazer? Abraça-me com a intensidade dos começos, enquanto giro sobre meu próprio eixo, até perder o chão. Inseto na luz, a rodopiar feito um satélite em volta de ti, amor. O que restará de mim depois que você se for?

microcrises : tic-tac


Imagem de Diego Paris

Quando não tenho nada pra fazer eu não faço. Mas aí tem sempre um que vem com idéia que não consegue guardar para si. Gente que não consegue parar, absolutamente.  De onde eu venho, as luas giram no sentindo contrário ao do sol. O tempo não vitimiza ninguém. Mas aqui, me sinto culpado de olhar para o nada de onde vim e para onde voltarei. Não vejo a hora, nem os relógios.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

microcrises : última chance


Imagem de Amandy Gibbons

Sim , esta foi minha última chance. Apesar da pouco idade, reconheço quando o fim está próximo. Algo muda no céu, o ar descarrega partículas elétricas que vibram de forma aleatória. Sinais se revelam simultaneamente, explodem como pipoca no microondas. Vejo, ao acordar, que a luz da manhã está diferente, que o café não tem o mesmo gosto, que a porta de saída se afasta a cada passo que dou em direção a ela. O corredor se alonga até virar uma estrada estreita e pouco iluminada. O telefone toca, não atendo. O telefone toca de novo e de novo e de novo, enquanto eu continuo dando sinal de ocupado. Meu peito vibra de ansiedade. Não tenho medo de dinossauros, mamutes ou de tigres de dentes de sabre. Tenho sim pavor do que me acorrenta à essa vida ordinária. Amarras invisíveis que ora me aproximam, ora me afastam deste jogo perverso de querer ser feliz a todo custo.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

microcrises : desidrata


OP1- foto Ricardo Ferreira

Seja filha da puta com quem você ama e seja feliz. Ajuda-te, como se fosse a pessoa mais importante desta ilha naufragada. Desidrata. Deixa secar ao sol o último suspiro de confiança. Por que não? Atira todas as suas cicatrizes no corpo são.