Imagem de Maitê Parisi
Eu já senti essa dor antes. Sei como ela funciona. Se instala aos poucos e cresce sem que se perceba. Quando me dei conta, já era tarde demais. Senti essa dor algumas dezenas de vezes e, mesmo assim, não consegui evitá-la. É como um vírus mutante que muda de forma a cada nova infecção. Acordei com os sintomas clássicos: ansiedade misturada com indisposição; a mente se volta para o passado e não enxerga nem presente, nem futuro. A vontade de ficar na cama é enorme, o corpo todo dói por dentro, o peito se enche de um líquido negro e denso. Ao olhar no espelho do banheiro percebi que todas as veias do meio pescoço haviam saltado. Era possível vê-las sob a pele fina, como fios elétricos em tons de azul e verde, subindo pelo meu rosto, irrigando minhas têmporas. Tomei alguns comprimidos mas sabia que a tentativa era inútil. A batalha havia terminado antes mesmo de começar e eu perdi. Agora onde estou, sentado no chão do box, abraço minhas pernas e fico quieto, muito quieto. É o único jeito. Ficar aqui por um dia, um ano, um século, até que água leve tudo aquilo que não faz mais parte de mim.
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